Precisou? Dançou!

Publié par Raïssa Lages | | Posted On lundi 8 novembre 2010 at 16 h 08

Amigos, escrevo hoje de meu computador, em casa. Estou doente desde quarta, o que ja faz 6 dias. Tive uma virose (eu presumo) de um jeito tão devastador que nem sei com o que comparar. Nunca tive dengue, mas deve ser bem parecido. febres altissimas, fraqueza, corpo todo doído e muita secreção, seguida de ataques de tosse. Como se não bastasse, tomei um antibiótico que me deu dores fortíssimas no estômago (por conta de minha antiga gastrite) e o remédio que tomei para cessar a dor me deu alergia e fiquei toda empelotada e coçando. Assim, estou me intoxicando diariamente com essa dose que deve acabar hoje, sem poder voltar atrás (apesar de parecer loucura) porque aqui não se compra antibiótico sem ver um médico e aqui começa a real razão de estar escrevendo...Aqui no Quebec, precisou? Dançou. regras básicas já aprendidas, porém apenas agora confirmadas:

1) Só vá para a emergência dos Hospitais se estiver morrendo.
2) 40 graus de febre não é doença, nem prioridade.
3) Crianças a adultos valem a mesma coisa e têm a mesma capacidade de espera.

Vou começar pela experiência de ontem, para depois relatar nossas outras tristes situações de necessidade médica no Canadá.

Ontem nanda passara a madrugada com 39.7 de febre, o que assustou muito. Eu estava doente já há alguns dias e não queria que ela passasse a mesma coisa. Resolvemos levá-la ao médico, no lugar de receitá-la via consulta Skype com minha mãe médica. Chegamos no Hospital as 11 da manhã. O hospital é apenas para crianças e se chama St. Justine. Muito arrumadinho e com apenas umas 12 famílias na espera, achamos que valia a pena esperar umas 2h por uma consulta de emergência. A triagem foi feita em minutos e deram-nos a epera de 3h. Pensamos que essa seria a pior hipótese e quase impossível, tendo em vista a quantidade pequena de pessoas na espera. Ocorre que se passaram 4 horas e ninguém nos chamou. Nesse momento, fui atrás da enfermagem para saber porque já se passavam de 4h e disse que minha filha estava com 39.9 de febre e que precisava tomar algo. Mandaram-me esperar, de uma forma bem grossa e tipicamente quebecois. Dei remédio pro conta própria. O que aconteceu é que depois de muito tempo, chamaram-na novamente para uma triagem, e mais uma vez, ela não era prioridade, porque ela estava com a febre baixa (eu ja havia dado meu remédio). Enfim, após 5h, mandaram-nos para a sala do médico. "Agora vai!", pensamos. Bem, após 2h na sala SEM NINGUÉM NOS VER, resolvemos ir para casa. Eu havia ido atrás de alguém que me dissera "ela é a 5a", o que não significava nada, porque toda vez que chegasse alguém com qualquer coisa pior do que ela, passaria na frente. Nessas horas, todos têm pitacos, opniões e conselhos. Ouvi, ao menos umas 20 vezes, de pessoas diferentes, que quando Fernanda tiver doente, não deveria levá-la ao Hospital, mas à Clínica, que se for particular, pagamos 40,00 dolares por inscrição e 20,00 à cada consulta. Muito bem, concordo, vale muito à pena, somos atendidas na hora, como gente, contudo não há raio-X e nem atendimento no fim de semana. Jef hoje foi trabalhar e não tem quem nos leve "numa clínica" e ai??? Como fica??? É muito difícil contar com um sistema tão precário. Os hospitais parecem enormes, muitos, mas parecem não ter médicos. Para quem morou no 2o maior pólo hospitalar do Brasil, cresceu com uma mãe médica e graças a Deus, teve sempre o privilégio de ter planos de Saúde, parece impossível conseguir levar essa brincadeira de falta de assistência à sério. Nossas outras experiências foram também terríveis. Uma, no Hospital Rosemont, com 4h30min de espera e acabamos indo para casa sem atendimento, para nanda, há cerca de 3 meses. Lá ainda era pior, porque havia macas pelos corredores, acho que proporcionalmente, deve ser a restauração daqui. Outra vez, logo que chegamos, jef teve uma crise de coluna e teve mais sorte, esperou um pouco menos de 5h e foi atendido pelo médico e receitado. Também teve a experiência na nossa 1a visita ao médico de família (aqui não podemos marcar direto com o especialista, o médico de família que deve lhe encaminhar, se assim ele achar melhor, caso contrário, você não pode). Bem, chegando lá, eu disse "no Brasil, eu era acompanhada por vários médicos" (gerlamente temos gineco, dermato e endocrino, pelo menos). O médico disse "diga-me 3 problemas". Já pensou??? Saí de lá com um encaminhamento para o gineco, para o gastro e com um pedido de exame de sangue. Fernanda foi olhada em segundos e nem a encaminhou ao Pediatra, porque aqui, mesmo os bebês, só vão ao pediatra quando doentes. Resumindo, ele nos atendeu em 5 minutos, sem mentira. Ah! E a última foi semana passada, na segunda, quando precisei sair da escola porque nanda estava com uma diarréia muito forte há 3 dias e fui a um CLSC, como uma clínica pública, porém somos atendidos por uma enfermeira, que nos aconselha, pois não pode prescrever (então, qual a utilidade???). Enfim, falei para a enfermeira sobre mim e nanda 9ambas com os mesmos sintomas) e ela, na mesma hora, se levantou e disse "tem que ir ao hospital fazer exames". Pronto! Só isso! Pense num atendimento! É porque não tenho dom para saúde, senão faria essa bendita de enfermagem. Custa pouco, formatura de 2 a 3 anos e ganha uns 200 mil por ano, e de quebra, não precisaria ir nunca mais ao Hospital.
Bem, ontem, enquanto fique 7h nos hospital, oscilei entre raiva, ódio, impotência, insatisfação e tudo mais que passa na cabeça de uma mãe com sua filha, sem forças, ardendo em febre, espera numa sala de emergência. Isso para mim, parecia mais do que um motivo para voltar para o Brasil. Pensem na raiva! Depois, convencida que minha raiva não muda em nada as coisas, resolvi me ajoelhar quando jef havia saído da sala do médico para colocar moedas pela 5a vez no parquímetro. Orei e clamei por misericórdia. Quando jef voltou, resolvemos ir para casa e oramos mais uma vez. No carro, fomos louvando e a raiva já foi trocada por alegria. Já estávamos, apesar de exaustos (eu ainda estava doente) brincando com nanda e sorridentes. Ao chegar em casa, de forma bem inesperada, encontramos com uma vizinha que levou Fernanda à uma outra vizinha brasileira, que estuda enfermagem, cujo pai é medico. Após pouquíssimos minutos, nanda foi diagnosticada com amidalite, o pai dessa colega já prescreveu o remédio com base no peso de nanda e graças aos remédios trazidos do Brasil, nanda já começou a ser tratada e hoje, quase 20 horas depois, não apresenta mais febre. Glória a Deus que cuidou de nanda e tratou, mais uma vez, nossa carne e perseverança. Se gostei, de jeito nenhum! Se acho que esse sistema de saúde funciona? Não há quem ache. Você está em dúvida entre a parte Inglesa e Quebec? Vá para a Inglesa! Quebec é o lugar mais atrasado do Canadá. Ainda compartilharei sobre os atendimentos nas lojas para vocês ficarem boquiabertos. Entretanto, estamos aqui porque foi aqui que o Senhor nos colocou. Pode ser hoje e amanhã não. Por enquanto, viveremos na dependência de Deus, o médico dos médicos, para cuidar de nossa família.

Aos que tiverem episódios de doenças, com crianças, durante a semana, essa clínica foi testada e aprovada:
http://www.clubtinytots.ca/nos_services.html
Anotem porque vale a pena e podemos precisar.


Aos que ainda chegarão, não tragam menos do que: dois tipos de antibióticos infantis e dois adultos, antiinflamatórios, antialérgicos para as crianças e para os adultos, dois tipos de remédios de verme, remédios para gastrite, remédios para fungo, pomadinha com corticóide, xarope mais forte para secreção, Allegra infantil e adulto, Fenergam (porque esses só vendem sob prescrição). Apesar de se comprar em qualquer lugar, é bom não esquecer de um Mylanta, Tylenol, Otossinalar, Alivium, Dramim e qualquer outro com o qual vocês está acostumado a contar.